Ego


Ego

Sobre o silêncio, assenta-se a sentença,
Sombra de si, solene, sem socorro,
Sábio de espelhos, solta-se do encerro,
Sobe em surdina a sede que dispensa.

Brilham blasfêmias breves no bronzeiro,
Brotam do busto, belo, mas sem brilho,
Beija-se o busto em báquico estribilho,
Busca-se em vão um verso verdadeiro.

Guerreiros gritam glórias no vazio,
Galgam a morte em marchas maquinais,
Gélido Deus, de gesto tão fugaz,
Gira o juízo em giro sem desvio.

E eu, esculpido em ébano e desgosto,
Ergo um altar ao algoz que me habita,
Eco de um eu em eros que crepita,
Entre o divino e o pó do próprio rosto.

— Johann M.

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