A Canção do Velho Rei, Capítulo III
Havia um canto modestamente arquetípico que fora primeiro entoado por membros de um groto secretivo, os primeiros dos cantores-mortos de Malkar; creio que será ele adequado ao andamento de minha Canção, que é conduzida em movimento destacado.
Canta, Rei dos Mortos-Homens, a Canção primeira que por perfídia me fizestes acreditar que não conhecias; tens-me como besta, mas aqui te sirvo, ouvindo e redarguindo… canta a oração anciã, a litania cifrada que entalhaste nas criptas da Ilha-Honra em seus ecos-feitos-morte.
I.
Quando deitado, o Tempo inda em sono
E assim sem Mundo em detrimento,
Erigiu-se Voz dum trono
Feito sem pedra, nem chama e nem vento.
II.
Os Homens de barro quedaram a sonhar
Que ao pó não havia retorno.
Ousaram o Firmamento profanar
Jazendo à sombra, perdidos de todo.
III.
Antes da Lua foi dito o nome
Que a Lua jamais ousou galgar.
Tornou-se sangue o primeiro fone
Com fome e sede de dessacrar.
IV.
Sete eram Reis - Sete sepulcros
Um para um Vivo, seis para os não.
Cada um guardado por pulcros
Mistérios oclusos na oscuridão.
V.
Ereto o Machado três vezes;
Em carne, pedra e em voz.
Idades inteiras se curvarão por vezes
Em ciclos eternos sem nós.
VI.
A medida de quem ouve cale o sentido,
Sabendo saber que é selado destino.
Quem cantar será fementido
De si próprio verá assassino.
VII.
Não é deus - nem besta, nem homem
Quem rege o silente exôdo dos planos.
É o Nome que os nomes consome -
O fim dos Mares Arcanos.
E não há de ser cumprido o fado? O que me foi enleado há de ser desvelado, a efígie de minha morte em vida, eterna guerra de memória. Haak, ergui eu os ossos dos sete reis como estandarte, compreendendo o silêncio dos tombados!
Usurpaste coroa, reino e dom. Anterior ao teu Nome e Mundo era o meu senhor, esquecido, louvado criador-enganador-provador. Minha alma cedeu e agora compreendo - teu trono não é vitória. Mal sabes porquê cantas. Mas assim deves fazer adiante…
Haak - dissera Ynntgrad - Retomarei de onde me detive, por digressão de teu desígnio. Haviam então os corpos estropiados de meus adeptos…
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