Introdução Sumária a Literatura Weird


The Shadows — Fritz Schwimback (1919)

O termo Weird na literatura atual é um fenômeno recentemente clarificado por um escritor específico — Howard Philipps Lovecraft — e seus protógonos, Weird advém do inglês arcaico Wyrd (com raiz no alemão também, significando 'Destino' com relação as Parcas, as Fiadeiras do destino; adquirindo o sentido de Estranho através dessa referência nas Estranhas Irmãs da peça Macbeth de Shakespeare) com ressignificação que conduz a noção de um Destino obscuro ou não-conhecido/convencional, e se torna polissêmico com um tropos bem específico ainda que bem medrado na literatura universal e particular. 
É um caso interessante reler a mitologia tradicional por essa lente, vemos que o desenrolar de eventos não é uma estrutura ordinária do dia-a-dia; são causas anormais ao mundo físico, sempre concedendo espaço para outras esferas, no caso a ligação mais direta seria o horror, citando um outro artigo meu, há uma condução do sentimento de medo com a Estranheza que ao mesmo tempo nos atrai como um fio de mistério — um elemento primordial da religião e do mito — que nos inicia em uma caminhada na dúvida instigante e na certeza de nunca mais a esquecer.

Se torna então um paradoxo, algo que confronta a racionalidade comum, um traço que algumas sensibilidades podem se apetecer e outras não, Lovecraft diria que sensibilidades elevadas captariam seu elemento, talvez seja mesmo algo que atraia mentes que se fascinam com um Supremo Outro, algo que fugiria a todo nosso inventário empírico, sem saber extensão, profundidade, conceito ou nome. Como mesmo Hesíodo declamava atrás de sua abertura do Véu pelas Musas:

Outros ainda da Terra e do Céu nasceram,
três filhos enormes, violentos, não nomeáveis.
(Teogonia, Trad. JAA Torrano, Editora Hedra, 2007. Vv. 147-48)

"Não nomeáveis" (Ouk onomastói) e "o que não pode ser dito" (oú ti phateión); chave a compreensão pode residir na abertura a esse espaço noturno de uma presença insólita em alguma camada da realidade, já que cada Ser ao ser nomeado se faz presente e algo que está-aí é uma presença própria do mistério que se faz sentir e precisamente por não ter conceitualização — é uma presença aterrorizante.
As características do que é uma presença medonha (para resumir vários detalhes) está no artigo linkado, essencial ao compreender o que possibilita algo ter essa aparência e porque nos afeta assim. Retornando então a momentos atuais, os ramos diversos da literatura — principalmente os marginalizados que é a vertente do horror, ficção científica e fantasia, alertam para uma noção que vai de encontro integralmente com a ideia estabelecida (creio que hoje, graciosamente diminuída) de alta e baixa literatura que persistiu forte até o século passado, hoje sendo constantemente demolida, colocava abaixo a dita literatura Weird particularmente por haver sido compartilhado em revistas baratas, revistas pulp (polpa, barato) e que reservara-se a população lê-los.

"A atração do espectral e do macabro é de modo geral limitada porque exige do leitor uma certa dose de imaginação e uma capacidade de desligamento da vida do dia-a-dia. Relativamente poucos são suficientemente livres das cadeias da rotina do cotidiano para reagir às batidas do lado de fora da porta, e as descrições de emoções e incidentes ordinários, ou de vulgares desfigurações sentimentais desses incidentes e emoções, terão sempre precedência no gosto da maioria; com razão, talvez, já que o curso desses temas ordinários forma a parte maior da experiência humana."
(Horror Sobrenatural na Literatura, H.P. Lovecraft, Editora Francisco Alves, 1987)

Talvez o gosto pelo horror seja algo excêntrico assim como uma intuição refletida em si própria seja a chave para uma grande ideia filosófica, sua incitação levará alguns e outros a abandonarão no caminho.



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