Ultimato
Ultimato
A guerra veio — veio sem clarim,
Sem honra, hino, glória ou estandarte.
Veio como febre, fímbria no estopim,
Com fogo frio e fúria sem alarde.
Ela não ruge — redige. E assina.
Seu sangue é selo, e o selo, seu punhal.
O novo templo agora é disciplina:
Legistas, onde havia o ritual.
Na cúpula da lei, o povo implora
Com vozes mudas, mãos todas rasas.
E o velho Deus, que outrora se evocava,
Agora assiste em sombras — sem mais asas.
Ecos de livros santos, sem liturgia,
Gemem nos cantos tristes dos quartéis.
Os monges marcham. Códices em agonia
Trocam sutis orvalhos por papéis.
A guerra é mármore, mas não é bela.
É fria, exata, sem febril delírio.
Ergue-se em cálculo, desce em tabela.
Bebe do tédio, cospe o martírio.
Ó Pátria, feita em forma de ferida,
Que pálida se curva à profecia
Teus filhos marcham, cada alma ungida
Por óleo negro em vez de eucaristia.
E os que clamavam “paz” já vendem tiros.
E os que pregavam “amor” já dão conselhos.
E os céus — outrora cheios de suspiros —
Estão calados. E vermelhos.
— Jetsün Sandhi
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